Detalhes do Trabalho

Título PT-BR:

“Filosofia de botequim”: o discurso da malandragem resistente no Samba de Ataulfo Alves

Autor:

Romanelli, Francisco Antonio

Orientador:

Prof. Drª Andréa Silva Domingues

Titulação do Orientador:

Doutor

Curso:

Doutorado em Ciências da Linguagem

Tipo de Trabalho:

“Filosofia de botequim”: o discurso da malandragem resistente no Samba de Ataulfo Alves

Assunto:

Samba. Pensamento sincopado. Filosofia de botequim. Ataulfo Alves. Discurso da Mineiridade. Discurso da Malandragem

Ano de Defesa:

2018

Biblioteca:

Unidade Fátima

Área de Concentração:

Linguagem e Sociedade

Linha de Pesquisa:

Análise de discurso

Resumo:

Nesta pesquisa busco encontrar sentidos no discurso sobre a resistência do chamado mundo do Samba, por meio de um subgênero típico nomeado “samba malandro”, em recortes de canções do sambista, compositor e intérprete, Ataulfo Alves. Para tanto, defendo que o samba/sambista urbano carioca construiu tal discurso ao se opor às condições opressivas de existência em uma historicidade peculiar e opressiva, nas décadas iniciais do Século XX. O estudo dessa construção discursiva é justificado não só pelos efeitos de sentido que vêm sendo impressos no cotidiano do brasileiro em geral, mas também porque, associada às necessidades do instante sociocultural em que se manifestou, e ainda se manifesta, forma e reforma a memória discursiva, contribuiu e contribui na instituição de formações discursivas que definem o povo brasileiro. O discurso do “samba malandro”, inaugurado por Noel Rosa, se construiu pelo uso de certa característica de compor, ritmar e interpretar canções, obtida na tradição ancestral negra do uso da síncopa como elemento de interpretação da vida em sentido amplo, enquanto aponta para uma maneira distinta de pensar e denunciar agruras do cotidiano. A essa maneira de pensar, me permito chamá-la de “pensamento sincopado”. Ao ser trazida para o real, textualizada em letras de canções, produz o que também me permito chamar de “filosofia de botequim”. De maneira específica, indago tais sentidos, propondo que Ataulfo Alves, compositor-intérprete, apesar de aparentemente “alinhado” aos sistemas político, social e econômico dos momentos de suas composições, praticava a aqui chamada “filosofia de botequim”. O desenvolvimento da análise desse discurso, incrustrado em recortes textuais de suas canções, apropria-se de dispositivos teóricos da Análise de Discurso chamada “de linha francesa”, inaugurada por Michel Pêcheux, ressalvando-se, no entanto, a formulação teórica desenvolvida, em terras brasileiras, por Eni Puccinelli Orlandi. Tais dispositivos majoritariamente se relacionam aos conceitos de silêncio, formações ideológicas, língua e linguagem, posição sujeito sambista, formações discursivas e memória discursiva. Percorro, na historicidade específica, o mundo do Samba e seu contato, extraconfinamento, com o chamado “mundo branco”, da indústria cultural e das elites e busco, em Ataulfo, influências das memórias trazidas de sua vivência infantil, o discurso da “mineiridade” (visto como palavra-discurso), bem como formações discursivas sobre a questão de gênero, atraindo o olhar para os discursos referentes à posição da mulher no Samba e do confronto aos e denúncia dos sistemas social, político e econômico opressores. Isso se faz, primordialmente, por recortes nos textos das letras das canções “Meus tempos de criança”, “Ai, que saudades da Amélia” e “Laranja madura”. Cumprido tal trajeto, demonstra-se por fim que, integrando-se às formações ideológicas do discurso do samba malandro que o interpelaram como sujeito “sambista-mineiro-malandro” no meio da malandragem e da filosofia de botequim do samba carioca, Ataulfo Alves se inscreveu no discurso do samba carioca malandro e resistente. Permitiu-se o uso intencional de linguagem dúbia, figurada, muitas vezes embasadas em ditos de sabedoria popular e na filosofia do cotidiano, próprios da tradição ancestral negra. Por sua multiplicidade de sentidos, pôde permitir interpretações que apontam para efeitos da resistência ao sistema opressor enquanto questionava mazelas da vida nos/dos morros.

Palavras-Chave PT-BR:

Samba. Pensamento sincopado. Filosofia de botequim. Ataulfo Alves. Discurso da Mineiridade. Discurso da Malandragem

Palavras-Chave EN:

Samba. Syncopated thinking. Barroom Philosophy. Ataulfo Alves. Mineiridade and Malandragem discourse.